Resenha do Baú: O Caçador de Pipas

Autor: Khaled Hosseini

Editora: Nova Fronteira

Páginas: 368

#skoob#

O caçador de pipas é considerado um dos maiores sucessos da literatura mundial dos últimos tempos. Este romance conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois meninos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão da década de 1970. Amir é rico e bem-nascido, um pouco covarde, e sempre em busca da aprovação de seu próprio pai. Hassan, que não sabe ler nem escrever, é conhecido por coragem e bondade. Os dois, no entanto, são loucos por histórias antigas de grandes guerreiros, filmes de caubói americanos e pipas. E é justamente durante um campeonato de pipas, no inverno de 1975, que Hassan dá a Amir a chance de ser um grande homem, mas ele não enxerga sua redenção. Após desperdiçar a última chance, Amir vai para os Estados Unidos, fugindo da invasão soviética ao Afeganistão, mas vinte anos depois Hassan e a pipa azul o fazem voltar à sua terra natal para acertar contas com o passado. 

Lançado em 2003 aqui no Brasil O Caçador de Pipas foi um livro que fez estrondoso sucesso no país e em todo o mundo vendendo mais de 8 milhões de cópias. Figurou na lista de mais vendidos por vários meses e um dos fatores que o tornaram um fenômeno editorial no Brasil foi o boca a boca. Por tratar-se de um romance fora dos padrões que estamos acostumados a ler (a história não é situada na Europa ou nos Estados Unidos, os personagens não são perfeitos e lindos e outras questões) foi um livro que não chamou a atenção à primeira vista, mas que com o passar do tempo, e com o boca a boca dos leitores o indicando, tornou-se um dos livros preferidos de muitos leitores e um verdadeiro sucesso de vendas.

A primeira vez que ouvi falar no livro foi justamente numa indicação de um amigo – ou seja, boca a boca. Ele me falou desse livro com muito entusiasmo, mas não soube me dar muitos detalhes apesar de ter gostado muito da leitura. Por não ter o hábito de ler, o livro foi uma leitura esporádica pra ele, apesar de muito boa como ele mesmo disse. Bom, me indicou o livro, disse que valia a pena, e eu fui atrás para saber mais detalhes.

Numa livraria dias depois, vi o livro, analisei, li a sinopse – que confesso não me chamou muito a atenção - , não gostei da capa, também não gostei porque era narrado em 1ª pessoa (tipo de narrativa que não gosto muito), mas o principal motivo que não me entusiasmou pelo livro foi por tratar-se de um romance que se passava no Afeganistão. Pensei comigo: uma história que se passa num país árabe; será que isso presta? Preconceito idiota meu que se eu tivesse deixado prevalecer teria me tirado o imenso prazer de ler um dos melhores livros que já li na vida.

Com uma história universal que poderia ser a de qualquer um de nós e com elementos simples da vida, Khaled Hosseini criou uma história arrebatadora sobre amizade, fidelidade, culpa, arrependimento e redenção que mesmo narrada em 1ª pessoa me cativou (me prendeu mesmo!) de uma forma que nunca antes havia acontecido com este tipo de narrativa. Com uma narrativa maravilhosa que o autor soube conduzir muito bem através dos olhos do seu protagonista, é mostrado ao leitor um Afeganistão bem diferente daquele que já temos pronto em nossa mente. O cotidiano do país, sua cultura, seus costumes e até mesmo seus conflitos políticos, que tem grande impacto no rumo que a história toma, tudo é mostrado de uma forma a nos aguçar o interesse cada vez mais pela história e seus personagens.

A história é centrada na amizade de dois meninos, Amir e Hassan, que apesar de serem de mundos muito diferentes, tornaram-se grandes amigos. Amir é de família rica tendo sempre tudo o que quis nas mãos, enquanto Hassan, filho de um empregado da casa e considerado de uma raça inferior, tem como seu maior tesouro a amizade de Amir. Mesmo com todas as diferenças que existem entre eles – Hassan, por exemplo, é analfabeto – a amizade dos dois sempre foi muito sólida, sendo da parte de Hassan quase de uma fidelidade canina. Mas num determinado inverno em um dos habituais campeonatos de pipa um acontecimento marca o fim dessa amizade e determina caminhos distintos para os dois meninos.

Depois do triste acontecimento que marca o fim da amizade dos dois meninos, a história passa a mostrar que todas as nossas ações e atitudes – ou a falta delas – cedo ou tarde vão ter consequencias em nossas vidas e uma hora ou outra o passado bate a porta para um ajuste de contas daquilo que fizemos ou deixamos de fazer.

Acompanhando a trajetória de Amir vemos que culpa e remorso são os piores companheiros na luta em recontruir uma vida nova; as consequencias pelos nossos erros são muitas vezes arduas demais para suportar, mas de alguma forma, mesmo que pareça que não merecemos, a vida nos oferece uma segunda chance para de alguma forma encontrarmos paz e redenção em nossos corações. Cedo ou tarde chega a hora do ajuste de contas e é isso que o livro mostra de forma muito bonita, mas sem disfarçar em momento algum o quanto isso pode ser doloroso.

Um livro excepcional do começo ao fim, com personagens muito bem delineados, cada um com suas histórias de vida que poderiam muito bem ser a minha ou a sua. Acho que esse foi o maior trunfo do livro, mostrar histórias de vida que podem ser vividas por qualquer um e em qualquer lugar, afinal, quem nunca magoou alguém, quem nunca decepcionou um amigo, quem nunca precisou pedir perdão, quem nunca fez escolhas das quais se arrependeu? O erros, as atitudes, as ações podem ser fatais e decisivas para o resto da vida, mas o mais importante é saber que enquanto há um coração batendo no peito – mesmo que cheio de cicatrizes e dores – há esperança para redenção e perdão.

"Abri a boca e quase disse algo. Quase. O resto da minha vida poderia ter sido diferente se eu tivesse dito alguma coisa naquela hora. Mas, não disse. Só fiquei olhando. Paralisado."

"Pode ser injusto, mas o que acontece em poucos dias, às vezes até uma única vez, pode alterar o rumo da sua vida inteira."